domingo, 21 de novembro de 2010

A felicidade num copo de coca.

Eu não procuro felicidade alguma. Eu procuro o propósito.

Quantas mais pessoas terão de morrer sem ter doado nada ao mundo por não perceber que o sentido de ser não pode ser "ser feliz"?

Tanta gente acha que o sentido da vida é ser feliz. Fazem de tudo para chegar nisso, tudo para ter aquela dose de felicidade de um final de semana ou outro. E muitas vezes esquecem de viver. E, irônica e fatalmente, não conseguem ser felizes.

As pessoas vão fazendo coisas tentando ser felizes. Ser feliz é o seu propósito.

Eu, ao invés disso, vou sendo feliz tentando fazer coisas. Meus propósitos sou eu que faço.

Ser feliz está errado. Não se é feliz; Se está feliz.

Se eu ganhasse um bilhão de reais amanhã e meu avô morresse no mesmo momento, não estaria nem um pouco feliz. Mesmo que meu propósito, até o momento, fosse ficar rico.

Quanta gente diz "Ah, se eu tivesse um trabalho estável, um salário bom, isso e aquilo, meus filhos seguros, seria feliz". Não vêem que todos esses elementos são estados que apenas durariam muito. Estados que são garantidos por coisas a que se conquista. Se ele perdesse aquelas coisas, não estaria mais feliz.

Não faz sentido viver em busca da felicidade. Ela é uma função de estado.

Se uma pessoa hipotética tivesse todos esses elementos que alguém comum considera necessários para se ser feliz, ainda assim poderia não ser feliz. Talvez tenha sacrificado muito de seu tempo fazendo o necessário para conseguir aquilo e não viveu de fato.
Talvez essa pessoa simplesmente não saiba que "é feliz" - procurou tanto e acha que ainda não encontrou, continua procurando.
Imagina se logo em seguida ela descobre que é? E daí, simplesmente passa a ser. Então aí ser feliz é apenas saber que se é, implicando que virtualmente qualquer um pode ser feliz, mesmo sem nada sequer ser. Então não é possível ser feliz. É apenas possível estar feliz.

Quando eu atinjo meu propósito, crio outro, respeitando o dignificar da existência. Inclusive um dos propósitos é achar O propósito, o sentido de ser. Se você pudesse ser feliz, não teria como criar outro propósito do mesmo gênero. Sendo tudo passageiro, inclusive a própria vida, nada que não seja a sua história e o que se conquistou fica. Portanto o Propósito não pode ser abstrato.

Dizer que o sentido da vida é ser feliz é uma desculpa para pessoas agirem como animais pensantes ao invés de humanos, às vezes.

Então pare de tentar ser feliz e vai catar alguma coisa pra fazer de útil. Esteja feliz enquanto estiver fazendo alguma coisa que tenha de verdade um significado.

sábado, 6 de novembro de 2010

O sentido da vida

Resolvi reformular esse texto pois ele não estava muito claro.
Na verdade, ele não se propõe a esclarecer o sentido da vida, ele se propõe a mostrar que a vida tem um sentido, se tiver, independente da real questão humana: qual é o sentido de ser?

Eu tentei, conforme abaixo, dar uma explicação meia-boca usando coisas da segunda lei da termodinâmica, então não sejam muito rigorosos. O lance é algo do gênero "tem alguma coisa a ver com isso aí, sacou" demais para ser levado a sério.

Por que ser vivo sem se dar conta de que se é vivo é o mesmo que ser rico sem se dar conta de que se é rico. Não é ser.

Se pegamos, por exemplo, um Hexaaquo-cobalto e reagimos com aminas, poderíamos ver que ele reage melhor com uma diamina (ligante bidentado) do que com uma amina simples (monodentado). Veja abaixo:

1 Co(H2O)6 + 6 NH3 --> 1 Fe(NH3)6 + 6 H2O
7 moléculas -> 7 moléculas

1 Co(H2O)6 + 3 EDA (etileno diamina) --> 1 Fe(EDA)3 + 6 H2O
4 moléculas -> 7 moléculas

A reação debaixo é favorecida pois há aumento no número de moléculas na segunda reação, ou seja, aumento de entropia. As entalpias são praticamente iguais, por isso não se trataria de termos energéticos.

As reações onde isso acontecem não precisam ser químicas, podem ser físicas, como o gelo derretendo acima de 0ºC - exemplo clássico de aumento de entropia. Coisa que, aliás, acontece naturalmente uma vez que a energia de Gibbs diminui quando isso acontece nessa temperatura - e a cachoeira sempre flui para  o posto de menor energia.

Em acordo com a segunda lei da termodinâmica, trabalho pode ser completamente convertido em calor, mas calor não pode ser completamente convertido em trabalho. Com a entropia procura-se mensurar a parcela de energia que não pode mais ser transformada em trabalho em transformações termodinâmicas.

Disse deus quando fez o mundo: conservai a energia, e aumentai a entropia. E assim tem feito o universo todo, sempre que rola um trabalho, parte vira trabalho e parte vira calor, mas nunca só trabalho. Haverá uma hora em que tudo estará em equilíbrio de um tal modo que não haverá de onde tirar energia para realizar trabalho e transferir a energia, pois para onde quer que seja transferida, estará indo contra a diminuição de potencial. No conto de Asimov esse é o ponto chave: como impedir que o universo se desfaça conforme a entropia tende a infinito, já que as reações em todo universo são favoráveis ao seu aumento? Como impedir uma situação de estatização geral das coisas? 

Algumas pessoas (me inclua) vêem semelhanças nisso com a forma com a qual se comportam sistemas econômicos.

Podemos ver um ser vivo por duas maneiras. Era antes um monte de matéria bruta espalhada, um porrilhão de moléculas, e agora é uma porra só. Ou pode ser um porrilhão de moléculas, que agora é um porrilhão de moléculas junto, mas ainda, um porrilhão de moléculas.

Em geral, os Bioquímicos definem a vida como um conjunto de moléculas que em suas interações mútuas desenvolvem um programa de auto-regulação, cujo resultado final é a perpetuação da mesma coleção de moléculas. Um equilíbrio dinâmico que ao trocar matéria e energia com o meio permite a redução da entropia.

Antes eram plânctons, agora mamíferos, e depois humanidade, e depois só Asimov sabe. A vida é o meio que o universo achou de evoluir o mecanismo de balanço termodinâmico-cinético. O sentido da vida é, de certo modo, compensar o aumento de entropia. É a vida que evolui e, no conto de Asimov, desenvolve o demônio de Laplace, que descobre como "inverter" a tal da entropia.

Eliminamos uma pergunta da infinidade das quais poderiam ser uma das perguntas fundamentais sobre a vida, o universo e tudo mais.

Agora passa-se à pergunta: qual o sentido de ser?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Our strength grows out of our weaknesses

A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite e a chuva que cai lá fora

Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora

O samba ainda vai nascer
O samba ainda não chegou

O samba não vai morrer
Veja o dia ainda não raiou

O samba é o pai do prazer
O samba é o filho da dor
O grande poder transformador